Histórias da Psicologia no período da ditadura civil-militar-empresarial, através das páginas da Revista Rádice

Coordenadora: Alessandra Daflon dos Santos

Este projeto de pesquisa tem como objetivo narrar histórias sobre a psicologia brasileira durante a ditadura civil-militar-empresarial, através das páginas da Revista Rádice. O período em que a revista foi publicada (1976-1980) compreende o momento no qual os movimentos sociais e populares se reorganizavam e materializavam a denúncia dos atos violentos da repressão, reivindicando o fim da ditadura militar. A Revista teve 15 números, contando ainda com dois extras: a edição de comemoração de 4 anos e a edição Rádice Teoria/Crítica, uma publicação voltada para a divulgação de textos considerados mais acadêmicos, que teve somente um exemplar. A crítica, o bom-humor, o riso são marcas desta “Revista menina”, que participava do Comitê de Imprensa Alternativa. No Brasil, na segunda metade dos anos setenta, houve um boom de publicações chamadas “nanicas”. Antes mesmo deste boom, ainda nos anos 60, dois jornais tornaram-se emblemáticos desse tipo de imprensa: O Sol e O Pasquim, por questionarem não só as questões relativas à política brasileira, mas também o próprio modelo de imprensa que havia. Essas publicações reuniam, além de jornalistas, escritores, poetas, cartunistas, pessoas ligadas aos meios de produção cultural do país. Produzida por psicólogos, estudantes de psicologia, artistas e jornalistas, a Rádice figura como um elemento instituinte nas frentes de lutas contra o autoritarismo político e os dogmatismos cientificistas que configuravam o campo da psicologia, naquele momento. A Revista foi palco de debates sobre temas variados, muitos deles até então não compreendidos como relativos ao campo “psi” (psicologia, psicanálise e psiquiatria). Em suas páginas lê-se sobre as relações de poder no campo da medicina, a psiquiatria preventiva, a educação, a cientificidade da psicologia, o uso de drogas, o preconceito racial, sexo, casamento, macumba, prisões e desaparecimentos de presos políticos no Brasil e na América Latina, os efeitos da tortura, as transformações no campo da saúde mental no Brasil e em outros países, a experiência da antipsiquiatria, além de entrevistas e matérias com inúmeros autores conhecidos no cenário brasileiro como Nise da Silveira, Luiz Alfredo Garcia-Roza, Gilberto Velho, Samuel Chaim Katz, Jurandir Freire Costa, Eduardo Mascarenhas, Hélio Pellegrino, e, também, nomes internacionais Ronald Laing, Franco Basaglia, Félix Guattari, Wilhelm Reich, Carl Rogers. A Revista Rádice marcou a formação de vários psicólogos ao interpelar, em suas páginas, a psicologia como ciência e como campo de formação – suas instituições e representações – localizando-se no campo das resistências e buscando formas de escapar aos modelos há muito naturalizados. Assim, compreende-se que a revista é importante fonte de pesquisa sobre as práticas da psicologia no Brasil naquele período; há muito ainda o que ser dito e estudado sobre as ações dos “Guardiães da ordem”, mas, fundamentalmente, sobre os enfrentamentos e ações de luta construídas.

Habilidades

Postado em

14 de abril de 2025

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